Um estudo internacional mostrou que, nos últimos 200 anos, a conexão dos seres humanos com a natureza caiu cerca de 60% (sim, você leu certo). Essa ruptura não é apenas uma curiosidade acadêmica, mas uma realidade que sentimos todos os dias em nossas cidades.
No Brasil, onde a maioria da população vive em áreas urbanas, essa tendência se expressa de forma clara: crianças que crescem em prédios sem quintal, jovens que raramente veem rios limpos ou florestas nativas, adultos que passam a maior parte do tempo em frente a telas. O resultado é a chamada “extinção da experiência” – quando uma geração deixa de ter contato direto com a natureza e perde também a vontade de preservá-la.
O estudo apontou três causas principais para esse distanciamento: a urbanização acelerada, a perda da biodiversidade no cotidiano urbano e a quebra da transmissão cultural – quando pais e mães não conseguem passar adiante hábitos simples de convivência com o ambiente natural. No Brasil, isso fica evidente quando percebemos como brincadeiras ao ar livre, como subir em árvores ou soltar pipa em campos abertos, foram substituídas por atividades em ambientes fechados e digitais.
Mas existem caminhos de reconexão. Experiências como hortas comunitárias em bairros periféricos, programas de educação ambiental em escolas públicas e a expansão de áreas verdes urbanas mostram que é possível inverter a tendência. As chamadas “escolas da floresta”, que começam a ganhar espaço por aqui, são uma forma de devolver às crianças o direito ao contato direto com a terra, a água e os ciclos naturais.
Além disso, o Brasil tem uma riqueza única: biomas como a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pantanal e os Pampas. Essa diversidade não deve ser vista apenas como patrimônio distante, mas como parte viva da nossa identidade cultural. Cuidar dela significa também cuidar de quem somos.
A boa notícia é que alguns sinais indicam uma retomada do interesse pela natureza. Termos e temas ligados ao ambiente estão reaparecendo em livros, músicas e debates públicos. Ainda é cedo para saber se isso será suficiente, mas já mostra que o vínculo não está totalmente perdido.
Reconectar-se com a natureza no Brasil passa por escolhas coletivas, como políticas de planejamento urbano, mas também por gestos individuais. Caminhar em praças e parques, cultivar plantas em casa, participar de mutirões de reflorestamento, ensinar crianças a nomear árvores e pássaros. Cada ato simples ajuda a reverter a curva do afastamento.
Se continuarmos ignorando esse afastamento, corremos o risco de criar gerações que não sabem o que é o cheiro da terra molhada depois da chuva. Se enfrentarmos o desafio, podemos redescobrir que a natureza não é um luxo ou um enfeite, mas a base invisível que sustenta a vida e o futuro.