A relação entre plantas e música tem atraído curiosidade há décadas. Desde os anos 1970, experimentos sugerem que sons e melodias podem influenciar o crescimento vegetal. Embora esse tema ainda seja controverso e em parte envolto em mitos, pesquisas recentes têm demonstrado que plantas respondem a vibrações acústicas de formas mensuráveis, abrindo espaço para o que alguns chamam de Plant Music ou música para plantas.
Estudos indicam que determinadas frequências sonoras estimulam processos fisiológicos. Experimentos realizados na Índia por T. C. Singh, na década de 1960, mostraram que plantas expostas à música clássica cresceram mais rápido do que aquelas em silêncio. Resultados semelhantes foram relatados por Dorothy Retallack (1973), que observou que plantas expostas a música suave se desenvolviam de forma saudável, enquanto aquelas submetidas a sons de rock agressivo apresentavam crescimento irregular ou até mesmo sinais de estresse. Embora esses estudos sejam criticados pela falta de rigor metodológico, eles despertaram um interesse duradouro pelo tema.
Pesquisas mais recentes trouxeram abordagens mais científicas. Sabe-se que células vegetais possuem mecanorreceptores que reagem a vibrações. Isso significa que, ao receber ondas sonoras, as plantas podem transformar essas vibrações em sinais bioquímicos. Em alguns experimentos, como os de Gagliano e colegas (2012), constatou-se que raízes tendem a crescer em direção a fontes de sons em frequências específicas, como as geradas pela água em movimento. Em outro estudo, López-Ribera e Vicient (2017) demonstraram que certas frequências sonoras aumentam a produção de hormônios relacionados à defesa das plantas contra patógenos.
Além da recepção, há também o fenômeno oposto: plantas parecem emitir sons. Em 2019, pesquisadores da Universidade de Tel Aviv registraram que plantas sob estresse hídrico produziam sons ultrassônicos, inaudíveis ao ouvido humano, mas detectáveis por equipamentos sensíveis. Isso sugere que plantas não apenas reagem às vibrações, como também podem participar de uma forma rudimentar de “paisagem sonora”.
Assim, a ideia de “plant music” pode ser compreendida em dois sentidos. O primeiro é a música feita para plantas, explorando a influência de sons e melodias no crescimento e na saúde vegetal. O segundo é a música feita pelas plantas, quando suas vibrações, sinais elétricos ou emissões acústicas são traduzidos em sons audíveis por meio de tecnologias. Este último tem sido usado em contextos artísticos, criando composições a partir dos “ritmos internos” do mundo vegetal.
Embora ainda haja muitas perguntas sem resposta, a pesquisa em bioacústica vegetal sugere que sons fazem parte do universo sensorial das plantas. Mais do que um simples mito, a música pode ser um meio de interação entre humanos e vegetais, ampliando nossa percepção sobre a complexidade da vida.
Fontes:
- Retallack, D. (1973). The Sound of Music and Plants. DeVorss & Company.
- Gagliano, M., Mancuso, S., & Robert, D. (2012). Towards understanding plant bioacoustics.
- Trends in Plant Science, 17(6), 323–325.
- López-Ribera, I., & Vicient, C. M. (2017). Drought tolerance induced by sound in Arabidopsis plants. Plant Signaling & Behavior, 12(10), e1368938.
- Khait, I., et al. (2019). Plants emit informative airborne sounds under stress. bioRxiv, 507590.