sábado, 13 de setembro de 2025

As plantas conversam entre si?

A comunicação entre plantas é um tema que, até poucas décadas atrás, era considerado quase impossível dentro da botânica. No entanto, estudos mais recentes têm demonstrado que as plantas possuem mecanismos complexos de troca de informações, tanto entre indivíduos da mesma espécie quanto entre espécies diferentes. Embora não exista linguagem no sentido humano, a comunicação vegetal se dá por vias químicas, elétricas e simbióticas.

Um dos modos mais conhecidos é a emissão de compostos orgânicos voláteis. Quando uma planta sofre um ataque de insetos herbívoros, ela pode liberar substâncias químicas no ar que atuam como um sinal de alerta. Outras plantas próximas, ao detectar essas moléculas, passam a ativar seus próprios sistemas de defesa, produzindo toxinas ou reforçando suas estruturas celulares para dificultar o ataque. Esse fenômeno foi descrito em pesquisas como as de Karban e Baldwin (1997), que analisaram as respostas químicas de plantas a estímulos externos.

Outro aspecto importante ocorre no solo. As raízes não apenas absorvem água e nutrientes, mas também liberam substâncias químicas que influenciam o ambiente ao redor. Por meio dessa liberação, plantas podem inibir o crescimento de competidores, atrair microrganismos benéficos ou até mesmo emitir sinais de estresse que outras plantas conseguem perceber. Esse processo é chamado de comunicação rizosférica e tem sido alvo de estudos em ecologia química.

Um dos achados mais fascinantes da ciência recente é a existência da chamada “Wood Wide Web”. Trata-se de uma rede de fungos micorrízicos que conecta diferentes plantas, permitindo a troca de nutrientes e informações. Esses fungos formam associações simbióticas com as raízes, criando uma malha subterrânea que funciona como uma espécie de internet natural. Suzanne Simard, pesquisadora canadense, foi uma das pioneiras na demonstração de que árvores podem transferir carbono, nitrogênio e fósforo através dessas redes, além de enviar sinais químicos que ajudam plantas vizinhas a lidar com pragas e estresses ambientais (Simard et al., 1997; Simard, 2021).

Além dos sinais químicos e simbióticos, existem ainda os sinais elétricos. As plantas possuem sistemas de condução de impulsos bioelétricos, semelhantes aos neurônios, mas muito mais lentos. Pesquisas demonstram que estímulos como corte, toque ou ataque podem gerar mudanças elétricas internas que desencadeiam respostas defensivas. Embora ainda haja muitas perguntas abertas sobre esse mecanismo, ele reforça a ideia de que as plantas são organismos altamente sensíveis ao ambiente.

A comunicação entre plantas é uma realidade respaldada pela ciência. Elas trocam informações para se proteger, para colaborar e até para competir. Esse conhecimento não apenas amplia nossa compreensão da ecologia, mas também pode ser aplicado em agricultura sustentável, já que permite explorar a capacidade natural das plantas de se ajudar e resistir a pragas sem depender exclusivamente de pesticidas.

Fontes:

- Karban, R., & Baldwin, I. T. (1997).  Induced Responses to Herbivory. University of Chicago Press.
- Simard, S. W., Perry, D. A., Jones, M. D., Myrold, D. D., Durall, D. M., & Molina, R. (1997). Net transfer of carbon between ectomycorrhizal tree species in the field. Nature, 388(6642), 579–582.
- Simard, S. W. (2021). Finding the Mother Tree: Discovering the Wisdom of the Forest. Alfred A. Knopf.
- Baluška, F., & Mancuso, S. (2009). Plant neurobiology: from sensory biology, via plant communication, to social plant behavior. Cognitive Processing, 10(Suppl 1), S3–S7.